terça-feira, 7 de abril de 2009

Sergio Ricardo e Glauber Rocha - Trilha Sonora do Filme Deus e o Diabo Na Terra do Sol(1963)


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Música de Sérgio Ricardo e letras de Glauber Rocha.
Sérgio Ricardo se acompanha ao violão em todas as faixas.
Inclui diálogos do filme e música de Villa-Lobos (Magnificat-Allelluia)

Parceria grandiosa de dois Gênios Sérgio Ricardo e Glauber Rocha, segue abaixo a história desse momento glorioso da arte universal, contada por Sérgio Ricardo em seu livro, "Quem quebrou meu violão":
"Eu voltava para o bar da Líder e ao CPC, matando as saudades e me inteirando dos avanços conseguidos pelo movimento.
Glauber Rocha, que no entremeio de minha filmagens(do filme do Sérgio “Esse mundo é meu”) acabava de montar seu filme Deus e o Diabo na Terra do Sol e entrava na fase de dublagem, começava a me pressionar para entregar-lhe a composição da trilha sonora. Já me passara o roteiro do seu cordel, todo esmiuçado, com indicações para cada trecho, além de pessoalmente fazer com a voz melodias que inventava na hora para ilustrar a composição. Eu teria que transformar-me num cantador de feira se viesse a cantar daquele jeito. Entregou-me umas fitas para ouvir em companhia de Paulo Gil Soares, seu assistente de direção, que ia me explicando cada coisa, com visão de antropólogo.
Até então eu só ouvira Luiz Gonzaga e os baiões da época, e não tinha idéia do que estava escondido por lá em força e variedade de estilos e cantos agrestes, do aboio do vaqueiro às incríveis variações das pelejas dos cantadores. Aquilo parecia estar sendo punçado no meu inconsciente com tal nitidez de relevos que nunca mais se apagaria. Sempre que aquela cultura volta a ser solicitada para a tarefa de composição, o fraseado me brota no ato, como se eu fosse fruto daquela região. O curioso é que a variedade de formas insinuava em cada modalidade uma abrangência sinfônica, ou elaboração harmônica a ser trabalhada por instrumentos vários com dinâmicas ricas, sem perda de seu conteúdo. Esse avanço me foi podado por Glauber, em razão da pureza exigida pelo filme, que não podia transcender o documental. Mesmo assim me atrevi criando uma cadência harmônica nunca usada pelo violeiro, resultando em toques de bordões do violão em intervalos de quarta e quinta conjugados, que serviam para sublinhar e narrar a entrada dramática de Antônio das Mortes. A melodia parava sempre em notas dissonantes em relação aos acordes, transpunham a elementaridade do cantar primitivo, sem perder suas características próprias.
Glauber, um músico em potencial, parecia haver percebido esta invenção e intuitivamente me dirigia na gravação para eu soltar a voz e me aproximar mais das intenções de seu filme, sem perceber que com isso estava acentuando a modernidade da música. Misteriosamente, não me deixou ver nenhuma cena do filme.
Um telefonema interrompe o trabalho de montagem do meu filme(Esse mundo é meu), era o Glauber.
-Sérgio, lamento muito, mas se você não entregar a música até segunda-feira, vou ser forçado a arranjar outro.
-Deixa comigo.
Ruy Guerra quebrou meu galho. Deixei-o sozinho adiantando o que fosse possível. Corri para casa. Liguei o gravador, peguei a viola, o poema com as indicações, e a cada improviso que ia pintando ao experimentar encaixar a letra, dando-me por satisfeito, gravava para não esquecer. Em duas ou três horas terminara toda a composição para submeter a sua primeira apreciação. Glauber foi correndo ouvir.
-Porreta! É isso aí. Não mexe mais em nada, Durante a gravação a gente vê.
Durante a gravação fui massacrado por ele. Tirou todo o meu ranço de cantor de inferninho e me botou cantando esganiçadamente como um cantador de feira.
Quando afinal projetou o filme para uma casa cheia de artistas, jornalistas e intelectuais, eu não acreditava que aquele gênio pudesse entender tanto de trilha sonora. Ora meu, ora Villa-Lobos, intercalou tão bem encaixado nosso trabalho com as imagens que a sua sensibilidade nos fez tirar o chapéu. Saiu todo mundo desconcertado daquela sala, depois de ter aplaudido de pé durante não sei que enormidade de tempo."

Sérgio Ricardo

Lista de Músicas:

1-Abertura
2-Manuel e Rosa
3-Sebastião
4-Discurso de Sebastião
5-A mãe
6-Antônio das Mortes
7-Corisco
8-Lampião
9-São Jorge
10-Monólogo
11-A procura
12-Reza de Corisco
13-Perseguição
14-Sertão vai virar mar

1 comentários:

Dinarte Assunção disse...

gostei e vou passar aqui mais vezes