sábado, 4 de abril de 2009

João do Vale - João do Vale (1981)


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O biótipo era de homem simples, do povo. A voz, rascante, suja, grave, sem maiores firulas. E o talento musical imenso - para criar obras-primas da canção nordestina, com aquele cheiro de chão. Estamos falando de João do Vale, que assim como Cartola, Nelson Cavaquinho e Luiz Gonzaga, faz parte daquela ala de compositores que tiveram pouco estudo e instrução mas conseguiram criar uma obra das mais pungentes da MPB. O CD João do Vale, de 1981, relançado agora na série Columbia Raridades, é um disco excepcional, a começar pela idéia. Gravado por iniciativa de Chico Buarque, Fagner e Fernando Faro, era enfim o primeiro disco do compositor que começara a ter composições gravadas por grandes intérpretes nos anos 50 (Marlene, Luiz Vieira, Dolores Duran). Seu boom foi nos anos 60, quando compôs o petardo (engajado) Carcará, que fez parte do espetáculo Opinião, em que Vale atuou e que teve o mérito de lançar Maria Bethânia. Mas após os anos 70, Vale foi se afastando do meio artístico e estava ficando esquecido até que veio esse disco para colocá-lo no patamar que ele merece. Com arranjos bem sacados de José Briamonte, o compositor está também muito bem acompanhado em diversas faixas. Ele canta sozinho apenas três (Na Asa do Vento, Morena do Grotão e Minha História). As demais ele faz duo com Jackson do Pandeiro (O Canto da Ema), Amelinha (Estrela Miúda), Chico Buarque (Carcará), Tom Jobim (Pé do Lageiro), Nara Leão (Pipira), Gonzaguinha (Fogo no Paraná), Alceu Valença (Pisa na Fulô) ou Clara Nunes (na arrepiante Oricuri - Segredos do Sertanejo, que diz: "Lá no sertão quase ninguém tem estudo/ Um ou outro é que lá aprendeu ler/ Mas tem homem capaz de fazer tudo, doutor/ E antecipar o que vai acontecer"). Poucos discos de duetos foram tão felizes, coerentes, como esse. Várias dessas gravações são definitivas.
(Texto de Rodrigo Faour)

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